posto texto de Matheus de Souza: “ o que uma coxinha e um
café me ensinaram sobre gratidão”, aborda tantas situações, bom pra se
pensar...
“Nós temos um tempo limitado na Terra.
Por que desperdiçar nossa energia preciosa nos preocupando
com o que os outros estão fazendo ou pensando?
E daí que o cara é crente, ateu, gay, sertanejo, metaleiro,
funkeiro, guru, empreendedor de palco,
comunista, fuma maconha ou vota no Crivella.
Tu não paga as contas dele, parceiro.
Foca na tua vida. Tens feito tudo direitinho? Qual tua
missão nesse planeta? Já descobristes?
Desde que as primeiras redes sociais apareceram — antes
disso, até… cês lembram do Fotolog? — nos viciamos em saber o que os outros
estão fazendo. Onde foram no final de semana, se a balada foi top, quem tá
pegando quem, quem comprou um pacote da CVC pro Nordeste, quem tá fazendo
intercâmbio que o pai pagou, quem tá na merda. Esse tipo de comportamento
sempre existiu, é verdade, mas como agora nos expomos mais, as pessoas não
precisam sequer conversar umas com as outras pra saber — ou deduzir — o que tá
ou não rolando.
Nós desperdiçamos nossa energia mental tendo inveja dos
outros, julgando comportamentos ou mesmo tendo uma sensação de felicidade ao
ver alguém se dando mal — sério, conheço gente assim. Aí te pergunto: pra quê?
Te dou um exemplo.
Dois, até.
Se teu sonho é viajar o mundo ou algo do tipo, pra quê
passar horas do teu dia vendo as fotos das minas do Instagram que são pagas pra
isso tomando espumante numa piscina de borda infinita?
Ao menos que você seja masoquista, pare de se torturar com
esse tipo de coisa.
Chega um ponto em que as comparações se tornam inevitáveis.
“Ela é mais nova que eu“. “Ela tem a minha idade“. Cara, você nem sabe se é a
mina é realmente feliz. Tem muita gente que vive de aparências.
Esse tempo que você perde se martirizando, poderia focar
suas energias em sair do lugar. Em tirar suas ideias do papel. Em trabalhar
duro — acredite, nada vem fácil, inclusive pras minas do Instagram, ou você
acha que a vida é espumante na piscina?
O outro exemplo é pessoal.
Tem uma galera que me viu no G1, viu o Projeto CR.U.SH na
Folha de S.Paulo e às vezes vê alguém foda compartilhando um texto meu e logo
pensa que automaticamente fiquei rico por causa disso.
Se eu recebesse R$1 por clique, realmente, já estaria
milionário. Mas, o mundo real não funciona assim, amigo.
Li um desabafo do Murillo Leal do Casal do Blog que me
chamou a atenção. Talvez por eu estar passando pela mesma coisa, talvez por,
até então, eu também só o olhasse com os olhos de quem não sabe dos corres.
A gente só posta o que queremos que os outros vejam. Ninguém
sabe as merdas que passamos. Ou mesmo as merdas que eu passei e continuo
passando.
Esses dias postei uma foto minha de madrugada dormindo no
aeroporto pra economizar o dinheiro do hotel. Dormi tão mal que até hoje meu
pulso está doendo. Mas nêgo não vê e não sabe dessas coisas. Só imagina que eu
fui pra SP ganhar dinheiro com alguma coisa — e esse nem foi o caso.
Não imagina, por exemplo, que naquele mesmo dia eu tomei café
da manhã com um morador de rua. E que ele me fez ser grato pela minha vida e
até pelos meus perrengues.
O cara me abordou na rodoviária de Tubarão (SC) e logo
pensei que era um assalto. Julguei pela aparência. Sujo, mal vestido. Mas ele
só queria um pastel.
Fomos juntos até a lanchonete.
— Pastel de carne? — perguntei.
— Pode ser uma coxinha, irmão.
— Uma coxinha pra ele.
— Rola um cafézinho pra acompanhar?
— Dois cafés. O teu é preto ou com leite?
— Com leite.
— Um café preto e um com leite, por favor.
O tal cara é o Vinícius. A história dele é a de vários
outros por aí. Primeiro entrou nas drogas. Depois perdeu o emprego. Aí perdeu a
mulher e, aos poucos, todo o resto. Foi pras ruas no início do ano. Diz ele que
não é ladrão e há três meses largou o crack. Só que ninguém tá aí pra ele.
Ninguém quer dar uma oportunidade pro Vinícius. A sociedade já o julgou pelo
seu passado recente. Ele virou um zumbi, tipo Walking Dead. Anda por aí atrás
de alimento só esperando a sua hora.
Esse tipo de convivência é difícil. Precisamos aprender a
fazer o bem para outras pessoas sem esperarmos qualquer tipo de recompensa e,
principalmente, sem julgamentos. Isso se chama empatia. Naquele momento a única
coisa que estava ao meu alcance era a coxinha e o café com leite. Não lhe dei
uma oportunidade, não lhe arrumei um emprego, não lhe dei um teto, mas matei
sua fome naquela manhã. E eu não sei vocês, mas, se eu tô com fome, não consigo
nem pensar direito. Imagina viver isso diariamente, cara.
À noite, naquele mesmo dia, lembrei do Vinícius quando me
deitei num banco do aeroporto de Guarulhos e não conseguia dormir por estar
desconfortável. Quero dizer, eu estava reclamando por ter que passar por aquilo
— e hoje ainda o fiz, ao reclamar do meu pulso — naquela noite, mas e essa
galera que dorme nas ruas todos os dias? Mano, eles não deixaram de ser humanos
porque se viciaram numa droga ou perderam seus empregos e suas casas. Para de
tratar teu cachorro melhor do que um dos nossos, porra.
A lição que tirei disso tudo e quero compartilhar é que,
independente de sermos bem sucedidos ou não, dormirmos num hotel de luxo, num
apartamento pequeno, num aeroporto ou nas ruas, nunca poderemos ter tudo o que
queremos.
Naquele dia o Vinícius só queria um pastel. Ganhou uma
coxinha e um café com leite. Ficou satisfeito, mas lá no fundo ele também
queria uma casa e um trabalho. Já eu só queria fazer uma boa viagem e não ser
perturbado por pedintes.
A real é que a felicidade não é ter tudo no mundo. Pelo
contrário, a felicidade está em ser grato por todas as bênçãos que já temos.
Independente se você acredita ou não em algum Deus. Sem julgamentos, lembra?
PS: No dia seguinte, em Florianópolis, fui abordado por um
outro homem. Dizia ser de Porto Alegre e já ter dormido cinco noites naquela
rodoviária. Só queria voltar pra casa e estava sem grana pra comprar a passagem
de volta. E eu puto porque passei uma noite no aeroporto…”
beijos e carinho, bell