madridd1997

 
Rejestracja: 2008-05-11
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5 lat 253 dni temu

Na Solidão das Noites Úmidas

Na Solidão das Noites Úmidas

Como tenho pensado em ti na solidão das noites úmidas
De névoa úmida,
Na areia úmida!
Eu te sabia assim também, assim olhando a mesma cousa

No ermo da noite que repousa,
E era como se a vida,
Mansa, pousasse as mãos sobre a minha ferida...

Mas, ah! como eu sentia
A falta do teu ser de volúpia e tristeza!
O mar... Onde se via o movimento da água,
Era como se a água estremecesse em mil sorrisos.
Como a carne de mulher sob a carícia.
O luar era um afago tão suave
- Tão imaterial -
E ao mesmo tempo tão voluptuoso e tão grave!
O luar era a minha inefável carícia:
A água era o teu corpo a estremecer-se com delícia.

Ah, em música pôr o que eu então sentia!
Unir no espamo da harmonia
Esses dois ritmos contrastantes:
O frêmito tão perdidamente alegre de amor sob a carícia

E essa grave volúpia da luz branca.
Oh, viver contigo!
Viver contigo todos os instantes...
Vivermos juntos, como seria viver a verdadeira vida,
Harmoniosa e pura,
Sem lastimar a fuga irreparável dos anos,
Dos anos lentos e monótonos que passam,
esperando sempre que maior ventura
Viesse um dia no beijo infinito da mesma morte....

Manuel Bandeira
In:"O Ritmo Dissoluto"