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Vício do jogo - causas, consequências e cura

Vício do jogo - causas, consequências e cura

1. Introdução

De Dr. Thorsten Heedt, médico especialista de psicoterapia com ênfase no tratamento de doenças pós-traumáticas.

Todas os comportamentos compulsivos têm pelo menos uma coisa em comum, quer seja o álcool, a heroína, a nicotina ou o jogo:

  • A "droga" é consumida compulsivamente mesma que não haja qualquer sentimento de prazer ao consumir o objecto de fixação
  • A perda de controlo vai crescendo progressivamente.
  • A "droga" é utilizada como forma de escape da realidade.
  • O vício continua mesmo após ter causado consequências bem negativas ou problemas de saúde.

O artigo seguinte aborda o problema do vício do jogo, a sua origem como determinar se alguém sofre desta patologia e como procurar ajuda.


2. O que é o vício do jogo?

O jogo patológico está listado como um "comportamento fora do normal e falha no controlo de impulsos" no ICD-10 e definido no glossário internacional de doenças como:

"Este comportamento fora do normal consiste de jogo frequente e repetido, que controla  vida do paciente e leva a uma disfunção e afastamento social, ocupacional e de valores da família e dos seus compromissos."

O jogo excessivo demonstrado por muitos pacientes é definido como: Uma mania ou doença discreta que está lado a lado com oscilações muito fortes de humor, uma melancolia interna muito agitada, mudanças repentinas de estado de espírito sem razão aparente.

Estas patologias também vêm, normalmente, associadas com uma disfunção social que faz o paciente perder qualquer interesse na suas obrigações sociais, tornando-se insensível aos sentimentos das outras pessoas. Este tipo de comportamento é muitas vezes encontrado em pacientes que se encontram na prisão.

O jogo persistente é também caracterizado por uma insistência no jogo apesar de todas as consequências negativas que este trouxe para a vida do paciente como dívidas, desagregação familiar ou outros efeitos negativos no desenvolvimento profissional.

Antes que se possa dizer que alguém é viciado no jogo é necessário sofrer 2 ou mais episódios de jogo patológico num período de pelo menos um ano.

Os padrões distorcidos e alterados do viciado em jogo estão mencionados noutra classificação de doenças como: "DSM-IV":

  • A especial importância do dinheiro para os pacientes.
  • Padrões de pensamento concentrados em competição.
  • A inquietude típica de um jogador.
  • A excessiva necessidade de reconhecimento social.
  • Tendência para excesso de trabalho.
  • A ocorrência de diversas desordens psicossomáticas.

3. Como se desenvolve o vício do jogo?

3.1. O problema básico

O desenvolvimento do vício do jogo é um processo complexo influenciado por diversos factores. Os mais importantes são os que se seguem:

  • Uma perturbação profunda da perspectiva pessoal (uma desordem "narcisística).
  • Um problema nos relacionamentos.
  • Um estado de excitação invulgar.

Um problema de auto-estima
Esta questão é particularmente importante pois existe um sentimento próprio descrito como um vazio interior ou como nada. Diversos sentimentos muito enraizados de inferioridade, muitas vezes originados na infância, são compensados por ilusões megalomaníacas. 

Os ganhos iniciais fortalecem o ego e parecem confirmar a ideia de que são realmente especiais, costuma acontecer após uma "big win", um lucro rápido e aparentemente fácil que inicia o descambar da mente para um mundo de fantasia.

Um problema nos relacionamentos
O psiquiatra infantil John Bowlby criou a teoria dos laços afectivos nos anos 60. Ele apercebeu-se que consoante a sensibilidade da mãe perante a criança, se criam diferentes tipos de laços:

No laço do tipo"incerto-ausente" , as crianças estão inseguras se o seu laço perante a mãe é suficientemente forte ou se essa pessoa está realmente disponível para elas. Por princípio, elas esperam que as suas necessidades sejam negadas; este é o caso das crianças que já foram rejeitadas. Crianças com este tipo de laço tem maior tendência a problemas emocionais ou mentais do que as crianças com laços "mais seguros". Os indivíduos viciados no jogo costumam demonstrar este tipo de laço. Geralmente, estas pessoas costumam ter histórias de famílias separadas com terríveis relacionamentos com os pais. Casos de abuso sexual também são comuns nestes pacientes.

 

Um grau de excitação desregulado
A incapacidade de regular a excitação interna e nervosismo resultam na peculiar inquietude de um viciado em jogo. A motivação de jogar no início tem como motivo o sucesso e lucros, a redução do tédio e a gestão de sentimentos negativos como p.ex. uma separação. Estes indivíduos acabam por cair num ciclo vicioso, acabando por prejudicar todas as áreas da sua vida.

Estes jogadores entram num estado de prazer e excitação enquanto jogam e tentam arranjar explicações para o seu jogo descontrolado. Comportamentos supersticiosos e raciocínios "mágicos" podem ocorrer. Progressivamente entram num mundo de fantasia marcados pela busca de poder e de lucros. Eles alienam-se do seu ambiente privado e tornam-se solitários. Começam a surgir padrões de pensamento distorcidos. O jogo torna-se a principal actividade das suas vidas. Este desenvolvimento leva ao declínio físico, mental e social.

O jogador, nesta fase, apresenta muito pouco controlo sobre os seus impulsos. Este comportamento é semelhante aos alcoólicos que não resistem a beber logo após terem deixado a bebida. Apesar das consequências extremamente negativas, o sentimento de libertação da tensão através do jogo, é reforçado.

Existe uma explicação neurológica. O sistema de recompensa do cérebro é sobrecarregado o que leva a uma contra-regulação do mesmo. De maneira a contrariar esta agitação anormal e danosa, o cérebro cria uma resistência a estes estímulos. Inicia-se uma adaptação neurológica. Com o objectivo de satisfazer a sua necessidade, os buy-ins e o volume de jogo têm de ser aumentados. Além disso, o expoente máximo desta patologia acaba por ser o showdown.

3.2. Padrões de Pensamento distorcidos

Os jogadores que sofrem deste problema costumam apresentar uma série de atitudes irracionais:

 

  • Ilusão de controlo

    Eles assumem que o jogo tem mais influência pessoal do que tem na realidade.

  • Eles costumam dizer que os lucros advêm das suas habilidades e as suas perdas de circunstâncias infelizes.
  • O efeito Monte-Carlo  ("a falácia dos jogadores")

    A frequência de acontecimentos no passado determina a probabilidade de ocorrência no futuro (p. ex. na roleta: Saem 3 números pretos consecutivos, quer dizer que a probabilidade de sair vermelho está a aumentar.)

  • Interpretação errónea de probabilidade de vitória

    O jogador estima as suas perspectivas de lucro de uma forma irreal. Por exemplo, 98% da "lotaria" dos buy-ins são perdidos.

  • Os quase-sucessos ("arrependimento cognitivo e os quase-falhados")

    Isto ocorre nas máquinas de jogo em que os três símbolos têm de aparecer numa determinada ordem para se ganhar algo mas quando só acertam dois deles. O resultado: "Tenho de continuar a jogar pois quase ganhei!".

  • A captura ("prisão")

    Esta é uma justificação de decisões erradas através de investimentos já feitos - "Ok, Quase de certeza estou batido, mas como dei call até ao turn também vou ver o river".

Existem provas de que o jogo compulsivo cria uma percentagem muito elevada de pensamentos erróneos.


4. Quem está em risco?

A maioria das pessoas afectadas por este problema são homens que vivem sós numa grande cidade com idades em torno dos 30 anos. O despoletar do vício costuma ocorrer na adolescência, no entanto, nos casos específicos das mulheres, este problema costuma surgir mais na meia idade. Se prosseguirem tratamentos, normalmente já se encontram em situações extremas como de dívidas, em perigo de suicidar-se e geralmente já terão cometido crimes para angariar fundos para o jogo. Um porção bastante considerável (cerca de 1/3) destes dependentes também sofre de dependências de carácter físico, nomeadamente de drogas ou álcool.

Perto de 2-3 % da população total tem um problema com o jogo e cerca de 1 % sofre do chamado comportamento de jogo anormal. Existe uma correlação a disponibilidade de sítios para a prática de jogo (p.ex. número de slot machines por 1000 habitantes), e a frequência de jogadores patológicos.

Acontecimentos como uma "big win", experiência difíceis como problemas nas relações amorosas, separação, gravidez da companheira ou problemas profissionais , podem também, ser despoletadores da dependência do jogo.

Também se verifica uma grande frequência de problemas paralelos ao vício do jogo. Por exemplo mais de 50% dos viciados em jogo são depressivos e apresentam comportamentos compulsivos além de graves problemas de personalidade. 

25% de todos os jogadores que procuraram tratamento já tinham tentado o suicídio.
Particularmente chocante é o  facto de 90% dos jogadores apresentarem graves problemas de personalidade e um intenso défice de interesse na realidade circundante.

Um problema de personalidade particularmente grave é caracterizado por um comportamento distorcido que se inicia na infância e adolescência e que causa graves problemas nas relações sociais. Desenvolvem personalidades narcisistas que empolam as suas virtudes e os seus feitos. Por exemplo, vários pacientes exageravam a valorização dos seus talentos e são como que absorvidos nas suas fantasias de sucesso, poder, glamour, beleza ou amor utópico. Estes indivíduos consideram-se verdadeiramente únicos e especiais e lutam constantemente pela valorização e admiração dos outros.

Este problema é de difícil tratamento porque o paciente, dado ser tão narcisista, desvaloriza o terapeuta ou então o paciente chega mesmo a parar a terapia quando as suas ilusões de grandeza não são confirmadas.

5. Quais são as consequências do vício do jogo?

Cria-se uma dinâmica na vida das pessoas que sofrem deste problema, que lhes afecta todas as áreas da sua vida. Eventualmente as pessoas ficam muito limitadas em termos de capacidade de controlo das suas acções.

A evolução desta patologia demonstra, por exemplo, que as pessoas acabam por tentar compensar as suas perdas, aumentando os seus buy-ins, perseguindo o dinheiro perdido. No poker, este fenómeno é conhecido como entrar em tilt.

O isolamento social aumenta gradualmente. Sentimentos de vergonha e de culpa começam a instalar-se na mente dos pacientes e as pessoas começam a  tentar esconder o seu vício. Estes jogadores descontrolados começam a tentar integrar-se em ambientes específicos e com um estilo de vida típico de jogadores que promove uma satisfação imediata das necessidades como jogadores. Isto poderá levar estes indivíduos a cometerem crimes e ilegalidades para conseguirem dinheiro para o jogo.

Finalmente, estes jogadores podem arruinar a sua vida financeira, perder as suas famílias e os seus trabalhos. Os psiquiatras defendem que estes acabam por ser os motivos imediatos de muitas tentativas de suicídio destes jogadores. Outros jogadores poderão mesmo tornar-se criminosos.

As consequências do jogo continuado e ininterrupto pode também ter consequências físicas como úlceras nervosas, enxaquecas e ataques cardíacos.

6. Como descobrir se está viciado?

Existem inúmeros questionários ou testes para averiguar a existência deste tipo de dependência e para separar o jogo patológico de outros tipos de jogo com outras características como o social, o profissional ou apenas períodos de jogo mais descontrolado, compulsões de jogo com personalidade anti-social ou utilização compulsiva do pc (internet, chat, jogos).

O procedimento mais reconhecido no mundo é o SOGS (South Oaks Gambling Screen). Existem diversos outros procedimentos para avaliar o grau de patologia quanto ao jogo. No fundo, estes procedimentos tentam averiguar a mesma coisa como por exemplo o grau de compulsão/necessidade que o indivíduo sente para com o jogo e também testam a sua capacidade  de deixar de jogar e se sentem consequências negativas quando jogam p.ex. exaustão). Estes procedimentos tentam também avaliar a presença do distúrbio narcisístico, abordado no texto acima, e testar a possibilidade do jogador poder enveredar em actos criminosos de forma a financiar o seu jogo ou pagar as suas dívidas.

7. Teste pessoal

De forma a averiguar se têm um problema com o jogo, podem fazer o próximo teste. É um questionário com 19 perguntas cuja resposta é apenas sim ou não. Se responderem a mais de 7 questões sim, vocês poderão ter algum distúrbio relacionado com o jogo.

1. Já jogaram até esgotarem por completo o vosso dinheiro?

2. Já pediram dinheiro emprestado para jogar?

3. Já pediram um empréstimo ao banco para jogarem?

4. Já ultrapassaram, muitas vezes, o vosso limite estabelecido pessoal de tempo ou financeiro para jogarem?

5. Já pensaram fazer actos ilegais de forma a obterem dinheiro?

6. Pensam muito no jogo?

7. Já roubaram para poderem jogar?

8. Têm dificuldades em pensar em outras coisas para além do jogo?

9. Sentem-se ansiosos ou agressivos quando não jogam?

10. O vosso quotidiano parece-vos aborrecido comparado com o jogo?

11. O vosso interesse pela vossa vida social diminuiu?

12. Vocês jogam para recuperar de perdas de sessões anteriores?

13. Vocês escondem o facto de jogarem e as vossas perdas da vossa família?

14. Depois de jogarem sentem algum sentimento de culpa?

15. Já vos ocorreu continuarem a jogar, mesmo sabendo que seria prejudicial em termos pessoais ou para outras pessoas?

16. Já jogaram para melhorar a vossa disposição mental ou para fugir de problemas privados?

17. O jogo já causou discussões com a vossa família?

18. Já faltaram à escola ou trabalho para jogarem?

19. Já pensaram ou tentaram cometer suicídio?

8. O que fazer quanto à dependência do jogo?

Antes de tudo, temos de determinar exactamente se estamos ou não a lidar com um caso de jogo patológico. Consultem pessoas especializadas (procurem  neste site).

Depois disso há que decidir se querem ser tratados como externos ou internos. Se o paciente ainda está integrado socialmente, a compulsão ainda não se desenvolveu plenamente, então visitas a terapeutas ou psiquiatras e psicoterapeutas é aconselhável.


Por outro lado, se a compulsão apresenta já um desenvolvimento avançado, têm de decidir se o paciente deve recorrer ou especialista psicossomático ou clínico perito nestas situações. Se  as consequências psico-sociais ainda não forem demasiado graves, ou se o comportamento compulsivo quanto ao jogo foi apenas causado por stress (por motivos de separação, perda de emprego, etc), seria aconselhável a consulta de um especialista psicossomático para tratamento.

Em casos avançados, um especialista clínico também deve ser incluído no tratamento. Se existir alguma outra dependência física como drogas ou alcoolismo, a pessoa deve ser tratada numa clínica própria.

Geralmente, esta parte da terapia implica que ambas as partes acordem uma total abstinência do jogo. Uma simples redução do ritmo de jogo não é suficiente. A completa abstinência vai acabar por revelar o problema subjacente que acaba por se expor de forma clara, a razão de dependência.

É importante em qualquer caso, encontrar a razão por detrás do comportamento compulsivo de jogo e conversar sobre as mudanças adequadas de forma a corrigir-se os padrões de pensamento erróneos, trabalhando ao mesmo tempo um plano para evitar um retorno ao estado de dependência anterior. Todos os problemas do jogador compulsivo têm de ser tratados, p.ex. a questão da falta de controlo, a regulação emocional e os padrões de relacionamentos. Estes últimos, em particular, podem ser trabalhados em terapias de grupo.

É da maior importância destacar-se a relevância das possíveis dívidas desses jogadores, de forma a criar um programa de saneamento financeiro progressivo e equilibrado em vez de ignorar este problema. Os familiares devem ser envolvidos no processo e devem apoiar o paciente com problema patológico, aceitando as suas dívidas.

 Dr. Thorsten Heedt,