Num largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Numa das viagens, iam um advogado e uma professora.
Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro:
- Companheiro, entende de leis?
- Não. - Responde o barqueiro.
E o advogado compadecido:
- É pena, perdeu metade da vida!
A professora muito social entra na conversa:
- Senhor barqueiro, sabe ler e escrever?
- Também não. - Responde o remador.
- Que pena! - Condói-se a mestra - Perdeu metade da vida!
Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.
O barqueiro preocupado pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! - Responderam eles rapidamente.
- Então é pena - conclui o barqueiro - Vocês perderam toda a vida!"
"Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes" (Paulo Freire).
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Saberes
O relato de um cidadão brasileiro
Nos descaminhos de asfalto que palmilha, Hustene empreendeu uma viagem de descoberta
do país. Diante de cada porta fechada, percebeu que o Brasil havia desistido dele e de sua
família e haviam esquecido de avisá-lo. Não é uma vaga de emprego que lhe negam, é um
lugar no projeto da nação. "O que mais me dói é que não consigo emprego por exigência de estudo.
Aí não vou poder continuar dando estudo para os filhos. Vão ficar pai, filhos e netos trabalhando sem
educação, no serviço que aparecer. Ficaremos todos sem escolha", desespera-se. "Eu trabalhava em
escritório, tinha datilografia e escrituração fiscal. Meus filhos iam comigo trabalhar e ficavam orgulhosos.
Agora me tornei um analfabeto, fiquei fora da informática.(...) Vou começar do zero e não estou no zero.
Não sou contra a tecnologia, mas é uma concorrência desleal. E meus filhos não têm computador. E eu
não terei o dinheiro para mandá-los para faculdade.
Eliane Brum. O homem-estatística. Época.Globo, n° 197, 25 de fevereiro de 2002, p.91
A lenda
Conta certa lenda que estavam duas crinaças patinando em um lago congelado.
Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam despreocupadas.
De repente o gelo se quebrou e uma delas caiu ficando presa na fenda que se formou.
A outra, vendo seu amiguinho preso e se congelando, tirou um dos patins e começou a golpear
o gelo com todas as suas forças conseguindo por final quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido perguntaram ao menino: Como
você conseguiu quebrar o gelo? É impossível que tenha conseguido quebrar o gelo sendo tão
pequeno e com mãos tão frágeis!
Nesse instante um ancião que passava pelo local comentou: - Eu sei como ele conseguiu
Todos perguntaram:
- Pode nos dizer como?
- É simples - respondeu o velho- Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não
seria capaz.
(desconhecido)